Você pensa errado sobre mudança.
Eu aprendi na faculdade que todo mundo odeia mudança. O pessoal que ensinava RH sempre falava que mudanças eram quase que o dominó que vinha antes da crise.
Isso porque pessoas não gostam de mudar. Elas estão felizes na zona de conforto delas, e poucas delas tem vontade de sair dessa zona de conforto.
E a gente escuta isso, e repete isso, em todas as áreas da nossa vida.
Se você quer começar uma dieta, tem que ser numa segunda, porque vai ser difícil. Afinal, mudanças alimentares são muito difíceis.
Se você quer começar a ir para a academia e levantar pesos, vai ser difícil, porque seus músculos tão quase atrofiados.
Se você quer estudar mais, ler mais, vai ser difícil, porque você tá acostumado a chegar em casa e ligar a televisão. Acostumado a acordar às 8h. Acostumado a dormir tarde…
Nas empresas isso é pior, cara. É pior porque você tenta submeter pessoas a mudanças difíceis. Mais trabalho, menos diversão. Mudar o jeito que as coisas são feitas. Mudar a rotina dessas pessoas.
Parece a receita para o desastre.
Qual o jeito certo de pensar sobre mudança então?
Um problema das pessoas
A gente sempre pensa sobre mudanças como se ela fossem um problema das pessoas.
Ou seja, para quem quer emagrecer, o grande problema é que a pessoa que quer emagrecer está comendo demais.
Para quem quer praticar alguma atividade física, o grande problema é que a pessoa é sedentária.
Nas empresas, a implantação de um novo software vem para melhorar o trabalho das pessoas. E as pessoas que precisam aceitar o novo software.
Novos processos, novos procedimentos, novas rotinas. Tudo isso é parece ser um problema com pessoas para aqueles gestores que pensam do modo errado.
E eu não tô dizendo que não é um problema de pessoas. É evidente que temos que nos preocupar com as pessoas. É óbvio. Elas tem uma vida fora da organização, e elas são as responsáveis pelo desempenho da organização.
Mas a mudança não é um problema das pessoas. A mudança é um problema da situação.
Um problema da situação
Há anos atrás, pesquisadores fizeram o seguinte experimento.
Eles foram atrás de um cinema que oferecia uma matiné, e bancaram a pipoca para todo mundo. Eles levaram potes de pipoca de um tamanho descomunal. Ninguém conseguiria comer toda a pipoca do pacote.
E para brincar ainda mais, eles levaram um pacote de pipoca maior que esse primeiro ainda. Imagine uma bacia cheia de pipoca. E eles deram de graça a pipoca pra todo mundo que ia assistir o filme.
O problema é que a pipoca que eles tinham feito para o filme estava ruim. Foi feita cinco dia antes do experimento. É aquela pipoca velha, mole, que apita quando você mastiga.
O que eles descobriram revela muito sobre mudança. Uma mudança que as pessoas não perceberam.
Todo mundo comeu a pipoca, independente do quão ruim ela fosse. Mas aqueles que receberam as bacias gigantes de pipoca, comeram mais do que aqueles que receberam um pote grande.
Eu vou repetir. Aqueles que receberam a bacia de pipoca, comeram mais pipoca murcha, xoxa, ruim, do que aqueles que receberam o pote.
E isso que nenhum dos participantes do experimento tinha conseguido acabar com a pipoca de nenhum dos potes, nem das bacias. Era MUITA pipoca.
O que determinou o quanto de pipoca as pessoas comiam não era a fome delas, nem o sabor e textura da pipoca, nem a bebida que acompanhava. Era o tamanho do pote.
Quanto maior o pote, mais as pessoas comiam.
Autoridades de saúde ficariam assustadas, e lançariam campanhas de conscientização para informar as pessoas do perigo de consumirem uma grande quantidade de pipoca.
Mas é só reduzir o tamanho do pote para gerar essa mudança.
É um problema de situação. Não é um problema das pessoas que estão desinformadas.
A ocasião faz o ladrão. Neste caso, a ocasião faz o glutão.
E na sua organização, a ocasião faz o que?
Cientismo
Isso é o que conhecemos por cientismo.
Cientismo é o que fazemos quando ficamos muito aficionados por ciência. Tudo tem que parecer científico. Se não parecer científico, não funciona.
Afinal, temos dados. Se temos dados, temos que analisá-los e achar a melhor maneira de mudar o que queremos.
O problema é que as pessoas não querem mudar. Elas comem sem perceber. Talvez aquele seu colega de trabalho que entra no facebook no meio da tarde nem percebe que tá fazendo isso, é automático.
Então os especialistas em mudança entram em cena, e lançam campanhas de conscientização sobre o tempo de uso de redes sociais, ou sobre o consumo de pipocas – que seria muito científico, afinal, somos racionais e podemos perceber relações de causa e efeito.
Só que como temos um problema de situação, e não de pessoas, é muito melhor dar potes menores de pipoca, ou não permitir que funcionários acessem o facebook dos computadores da empresa – eles ainda podem acessar dos celulares deles se precisarem.
Ou melhor ainda, perguntar e refletir: porque essas pessoas fazem coisas sem pensar?
E aí entramos em um outro reino
O racional e o emocional
Em uma carroça, existem 2 seres: o condutor e o cavalo.
Para satisfazer minha ansiedade por didática, vamos dizer que é uma carroça de elefantes, e não de cavalos. Então temos o condutor e os elefantes.
O condutor é o cara racional, que estabelece o caminho. Ele sabe o que tem que fazer, onde nós vamos, e ele é responsável por guiar o elefante.
O elefante, por sua vez, faz o que quer, ou o que o condutor manda. Depende do seu humor.
O elefante pode obedecer, mas se ele trabalhar demais, vai mostrar um grande dedo do meio para o condutor e sair para o lado que ele quiser.
Um depende do outro para chegarmos onde queremos. Racionalidade e emoção. Condutor e elefante. Empresa e funcionário.
“Caio, eu não acredito que você tá dizendo que funcionários são como elefantes, irracionais e emotivos”.
Bom, da última vez que eu chequei, pessoas como nós precisamos tirar o chocolate do nosso campo de visão para parar de comer. Precisamos colocar os despertadores longe de nós para acordarmos na hora certa.
Um ser completamente racional não faria isso. Ele pararia de comer o chocolate porque sabe a hora de parar. Um ser racional não precisa colocar o despertador longe com medo de apertar o “soneca” e dormir 3 horas a mais do que deveria.
Platão era quem dizia:
Nas nossas cabeças nós temos um carroceiro racional que precisa comandar um cavalo desobediente que não se importa com chicotadas ou agulhadas.
Tá Caio, e o que isso tem a ver com mudança?
É óbvio. Para mudar, além de pensar no problema da situação, ao invés de pensar no problema da pessoa, você precisa pensar em uma maneira coerente de agradar o carroceiro e o elefante ao mesmo tempo.
Você precisa apelar ao racional e ao emocional. A mudança precisa ser boa para a empresa e para o funcionário. Para o chefe e para o subordinado.
A mudança fica fácil quando todos são beneficiados com ela.
Ah Caio, que inocente. As pessoas não gostam de mudar
Tá bom, então. Falou o pai ou a mãe que escolheu ter um filho que demora 9 meses dentro da barriga pra nascer e dar muito trabalho, come uma grande parte do orçamento da família, caga e vomita nos piores horários e nas melhores roupas.
E os pais sempre felizes e orgulhosos de cada arroto e dizendo “é difícil mas vale a pena”.
A moral da história
Você tá pensando sobre mudança do jeito errado. A mudança é um problema de situação e de alinhamento entre emoção e razão, cara.
- Um problema de situação porque você come menos quando teu pote é menor. Você trabalha mais quando quebra sua to-do list em tarefas menores, por exemplo
- Um problema de alinhamento entre emoção e razão porque não tem como fazer um sem o outro.
Emoção e razão juntos são o que te levam pra frente, e é por isso que eu adoro fazer o que eu faço aqui.
Eu escrevo todo dia nesse site, e ainda mando um email por semana pra um grupo de pessoas que achou coerente essa minha abordagem que junta uma coisa séria – desenvolvimento humano e organizacional -, com um lado mais emocional e aplicado.
A situação é a seguinte. Você precisa mudar constantemente. A mudança de situação que você pode precisar é recebem meu email na sua caixa de entrada toda sexta-feira. Demora 5 minutos pra ler, e agrada sua emoção e sua razão.
E você ainda recebe meu livro sobre estratégia. É o mínimo que você deveria saber sobre esse assunto. Escrito de um jeito que agrada a sua emoção e e a sua razão, e que vai mudar o jeito que você faz as coisas sem você perceber.
E aí, quem tá no comando? O carroceiro ou o elefante? Ou os dois?
Clica aqui embaixo de uma vez!
REFERÊNCIAS
Taleb, N. N. (2012). Antifragile: how to live in a world we don’t understand (Vol. 3). London: Allen Lane
Heath, C., & Heath, D. (2011). Switch. Vintage.
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