Pra mim, política é um tópico fantástico. Eu amo falar sobre política, e atualmente estou em campanha por uma deputada federal do Partido NOVO, aqui no Paraná.
E o NOVO veio pra confirmar uma tendência mundial a favor do liberalismo (hoje uns chamam de neo-liberalismo), que é o poder para o indivíduo, em resumo.
O liberalismo prega que o indivíduo deveria ter controle sobre a sua vida, o que chamam de liberdade com responsabilidade. O estado é mínimo e a ele compete saúde, segurança, e educação. O resto fica a cargo do mercado. Eu gosto dessa ideia.
Cabe ao indivíduo manter a sua família, a vida em comunidade, a sua religião, etc.
Mas Religião, Família, Estado e Comunidade cada vez significam menos pra nós. Estamos ficando cada vez mais individualistas, ou seja, cada vez mais temos mais responsabilidades sobre nós.
O problema começa quando a gente vê que não dá conta de algumas dessas responsabilidades. Não encontramos substitutos para essas instituições ainda. A gente tenta manter todos os malabares no ar, mas é muita coisa. E a gente não consegue. E a gente falha.
É natural falhar, cara. Eu fracassei 9.874,985 vezes e vou fracassar 2.095.874 mais. Mas será que a gente consegue fazer isso sozinho? Antes a gente tinha pessoas para nos dar colo. A gente tinha a segurança de outras pessoas estarem conosco. Hoje, não tanto. E a tendência é piorar.
Será que o individualismo é uma coisa tão boa assim?
Customização
Se você se lembrar, tudo começou com a porcaria do Ford T.
Henry Ford ficou famoso com a frase que dizia “todo mundo pode ter um carro, desde que seja preto”.
A palavra chave dessa frase não é o carro ser preto, nem a questão da evolução da indústria. Hoje, a palavra chave dessa frase é “todo mundo”.
Faz quanto tempo que a gente não pensa em termos de “todo mundo”?
A customização deu asas às imaginações individuais, criou organizações de nicho, prontas para atender qualquer tipo de demanda customizada. Hoje tudo é customizado para você. Nada é padrão.
Você pode escolher dentre vinte tipos de remédios pra dor de cabeça, e dentre 100 tipos de cerveja artesanal. Você tem 40 marcas de café ao seu dispor, e 50 modelos de carro, com 10 opções de cor cada um.
A customização chegou para ficar, pelo menos é o que parece, e todo mundo acha isso bom, certo?
Não tô dizendo que eu acho isso ruim. Eu acho isso ótimo. Eu só acho que nem tudo são flores.
Isso porque a principal bandeira da customização é o controle.
Controle
Decisões e escolhas. Há 20 anos atrás, eu aposto que as pessoas não se preocupavam tanto com o que vestir, com quem casar, com qual carro comprar, nem em qual bar ir.
Qualquer um tava bom, principalmente porque as coisas não eram tão customizadas. As nossas expectativas não eram tão altas, e as coisas não eram tão boas como são hoje.
Hoje a gente tem mais controle sobre as coisas, principalmente sobre coisas importantes. A gente tem controle sobre o nosso trabalho e a organização que trabalhamos, por exemplo.
A gente tem muito mais controle sobre a profissão que escolhemos e com quem decidimos passar a vida (afinal, há alguns anos, eram os pais que escolhiam tudo).
A gente tem controle sobre tudo, graças ao liberalismo, capitalismo e individualismo. A gente coloca o indivíduo no pedestal e louva. Todos nós queremos cada vez mais controle.
Poder de Compra
Junto com o controle veio o poder de compra. Isso é fácil de ver. É só você pensar no milionário de 50 anos atrás. O que ele podia comprar?
Ele podia comprar uma casa legal e ponto. Não tinha muita escolha. Ele dormia em cima do dinheiro. As pessoas guardavam dinheiro embaixo do colchão, cara.
Quanto mais produtos, mais customização e mais escolhas temos. E hoje, temos uma porrada de coisas que não precisamos. E é claro, todas elas simbolizam a nossa personalidade.
Expectativas
Junto desse poder de escolha e poder de compra, inspirado pela customização de tudo, veio também o julgamento do que é uma vida ideal.
É claro que as pessoas tem que se expressar, tem que ser elas mesmas, e nunca podemos forçar alguém a reter os seus impulsos, certo? Há 50 anos atrás isso era impensável.
Afinal, hoje temos muito menos julgamentos sobre o que é aceitável, sobre o que é um bom trabalho e sobre o que é um bom casamento. Ou não?
Pois é. Não. Hoje temos mais julgamentos. Hoje somos mais exigentes. Hoje a gente quer muito mais que só um trabalho, só um casamento, só um carro qualquer. A gente quer O trabalho, O casamento, e O carro.
O trabalho bom não é mais aquele que paga o seu salário e permite você viver com sua família. O trabalho bom deve ter significado, deve ter benefícios como VA e VT, os seus colegas devem ser as melhores pessoas do mundo, a empresa não pode danificar o meio ambiente, etc.
O casamento também, não é mais só uma forma de duas pessoas se unirem para criarem uma família delas mesmas. Agora, os dois pólos devem ser eternamente sexys e magros, interessantes e inteligentes, e o fogo da paixão deve estar presente 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Afinal, a gente tem que ter conteúdo pra postar no instagram, não é mesmo?
Escolhas Individuais
Assim como o Ford T, há anos atrás, todo mundo poderia ter uma família, desde que fosse igual (ou muito parecida) às outras.
Hoje, você pode escolher a família que você tem. Você pode redefinir o conceito de família. Hoje, você pode ser quem você quiser, e pode até redefinir o conceito de “ser”.
Vou repetir. Eu sou a favor de tudo isso, cara. Mais escolha pra gente, melhor. Sou um liberal, e acredito que as pessoas precisam ter esse tipo de escolha.
O problema é que hoje a gente está vivendo na época do “self” máximo. Isto é, as nossas decisões são tomadas com base no que uma pessoa quer, ao invés do que a sociedade como um todo precisa.
Eu tô te falando isso porque junto com a customização, com o poder de escolha, com o poder de compra, com as expectativas e escolhas individuais, vem um perigo. A depressão.
A falta da comunidade
O problema é que a gente enfatizou tanto, nos últimos anos, essa questão de ser, e ter, que esquecemos que nós somos, como qualquer animal, seres que vivem em comunidade.
A gente precisa de outras pessoas pra viver. Isso não parece ser uma escolha racional nossa. A gente se customizou tanto que se tornou único. E nessa brincadeira esquecemos de pertencer a alguma comunidade.
Sou plenamente a favor da escolha, do individualismo, e encaro o indivíduo como a menor minoria, que deve ser protegida. Entretanto, a gente não pode se esquecer de nosso papel na comunidade. É isso que dá nosso sentido de propósito no mundo.
Mesmo que o seu feed no instagram não seja o mais bonito, você tem o seu valor. Mesmo que você não tenha tantos seguidores, você tem o seu valor.
Nossa comunidade de antigamente, onde um procurava ajudar o outro, virou numa competição irascível sobre quem tem mais likes, sobre quem é mais famoso, e sobre quem dita as modas que seguiremos amanhã.
A Moral da História
Não se esqueça que você faz parte de algo maior, bicho. Isso tem implicações pra sua vida agora.
Recentemente falei com uma pessoa que me contou sobre o trabalho dela, que ela tava estressada e frustrada porque tinha metas muito duras para bater, em uma empresa do tipo “máquina de vendas”, que um bando de retardado aplaude e acha maravilhoso.
As empresas do tipo máquina de vendas se gabam de rasgar notas de cem reais na frente dos funcionários e fazer pressão pra eles venderem mais.
Essas empresas se gabam das suas técnicas de persuadir pessoas para que elas comprem um produto que elas não querem nem precisam, de forçar funcionários a trabalhar 16 horas por dia com remuneração majoritariamente variável, etc.
Melhor este emprego do que nenhum emprego, entretanto. Mas isso não diminui meu ódio por esse tipo de empresa.
Mas voltando ao ponto principal, essa pessoa que me contou sobre o stress que estava passando no trabalho parece ter esquecido da sua função na comunidade.
Que ela poderia alocar uma hora por dia (ou por semana) pra ser um membro ativo do seu Conseg, filiada a um partido político ou a uma ONG, ajudar as pessoas sem pedir nada em troca, conversar com gente nova, e fazer novas amizades.
É claro que eu entendo. As circunstâncias levaram até isso.
Hoje o máximo de interação que algumas pessoas tem com outras é ouvir “não” e ser otimista o suficiente pra seguir em frente com suas ligações de vendas. Cara, isso é muito compreensível.
Mas nós precisamos contribuir. Vivemos na economia do “obrigado”, na economia do conhecimento. Precisamos dar coisas de graça, porque recebemos muitas coisas de graça.
Como assim dar de graça? É claro, cara. Pegue a religião, a família, a comunidade. Não tem grana envolvida, bicho. É tempo, amor, e esforço por uma causa maior.
Pegue o google, por exemplo. Você paga pra usar o google e aprender o que você quiser? Você paga pra usar o facebook? Você paga pra usar o Youtube?
As melhores coisas são de graça, porque elas criam esse senso de comunidade. Mesmo que a gente não perceba.
É por isso que eu escrevo aqui todo dia. De segunda a sexta, e um email pros meus chegados.
Eu quero contribuir com a minha comunidade – a comunidade daquelas pessoas que sabem que tem alguma coisa errada por aí, não sabem o que é, mas querem achar um jeito de melhorar.
Eu faço isso de graça, e já me taxaram de louco por isso. São textos longos, com referências bibliográficas, etc.
Se você pegar cada post aqui e colocar no word, com fonte arial 12 e espaçamento 1,5, vai dar de 7 a 8 páginas. E eu faço isso de graça pra você. Só pra te colocar em perspectiva, hoje fechei um contrato pra escrever um livro, que vai me dar o mesmo trabalho de duas semanas de artigos que eu coloco de graça aqui pra vc.
E eu sei que você quer mais, então tem meu livro sobre estratégia, também de graça pra você. Em alguns dias vai ter canal no youtube, curso online, enfim.
Esse é o meu jeito de contribuir pra minha comunidade. E de quebra eu ainda construo o meu nome como profissional. Individualismo e liberalismo feitos do jeito certo.
Faça parte dessa comunidade, cara. Clique aqui embaixo.
REFERÊNCIAS
Seligman, M. E. (2006). Learned optimism: How to change your mind and your life. Vintage
Bauman, Z. (2013). Liquid modernity. John Wiley & Sons.
Berger, P. L., & Luckmann, T. (1991). The social construction of reality: A treatise in the sociology of knowledge (No. 10). Penguin Uk.
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