Albert Ellis foi um dos pais da psicologia cognitiva, ou seja, aquela que se importa com o jeito que você pensa sobre as coisas.
Eu amo psicologia cognitiva porque ela não se importa com o que aconteceu com você, fatores que você não pode mudar do teu passado, nem fica presa à “cura pela fala”, onde você só fala, fala, fala, fala, fala, fala, fala, e tem um “clique”, como acreditam alguns psicólogos.
A psicologia cognitiva te habilita a mudar a sua vida, porque ela te ensina a mudar as crenças que estão enraizadas em você. E alem disso, fazem você pensar sobre o seu futuro, sobre os outros, e sobre você mesmo.
Ela parte do princípio de que o passado já passou, e só tem uma coisa que você pode fazer com o passado: mudar o jeito de explicar ele pra você mesmo.
Afinal, sempre que algo acontece com você, principalmente coisas ruins, a sua primeira reação é racionalizar isso. Em outras palavras, você pensa sobre o que aconteceu.
Depois de pensar no que aconteceu, você estabelece uma crença sobre isso. Se alguém foi estúpido com você, você tem diferentes jeitos de pensar sobre a estupidez dessa pessoa:
- Você pode ter merecido a estupidez
- A pessoa pode estar de mal humor
- Ela descontou em você algo que aconteceu com ela
- Ela foi estúpida porque você foi estúpido
Essas são 4 das infinitas crenças que você pode ter baseadas em uma só adversidade: alguém ser estúpido com você.
E essas crenças moldam as consequências do ato da estupidez. E essa é a parte que mais me fascina.
Porque nossas crenças tem o poder de moldar as nossas reações.
Existem pessoas que não aguentam estupidez, e se sentem muito mal depois. Da mesma maneira, existem pessoas que estão pouco se fodendo pro estúpido, e mostram um grande dedo do meio pra situação.
Saber que tudo que fazemos nessa vida é resultado de ACC: Adversidades, Crenças, e Consequências, mudou a minha vida, e vai mudar a tua.
Porque a partir do momento que você começa a desafiar as suas crenças e ver que existem maneiras alternativas para encarar a adversidade, as consequências das coisas ruins mudam drasticamente.
A partir de agora, eu vou explicar como apenas estar ciente, só de saber que Adversidades, Crenças, e Consequências (ACC) existem, muda a tua vida.
Adversidades
Tudo pode ser uma adversidade. Eu, por exemplo, falhei hoje. Esse post não estava programado.
Hoje a minha academia não vai abrir. Há algum tempo eu venho negligenciando a minha dieta. Estou fumando muito. Estou sem emprego fixo e estável. Cara, todo mundo tem adversidades na vida. Uma torneira vazando, uma noite mal dormida, uma comida de rabo do chefe, uma briga na família, uma conta pra pagar, etc.
Adversidades acontecem naturalmente e frequentemente na tua vida, e na minha também. Há 3 semanas eu quebrei o dedão do pé, e logo depois bati o carro. Ontem mesmo eu falhei em um trabalho que eu tô fazendo.
A gente não é perfeito, a vida não é justa, e coisas ruins acontecem. Não é só a morte que é certa na vida, como alguns insistem em dizer. Shit happens e a gente tem que encarar tudo isso e seguir em frente.
O problema é que muitas pessoas ficam paralisadas, e deixam de seguir em frente. Algumas adversidades realmente paralisam, como a morte de alguém querido, como uma demissão, um divórcio.
Mas elas tem que passar. Tudo tem que passar. E aí que entra a psicologia cognitiva, e mais precisamente a psicologia positiva.
Tudo que passa precisa ter uma explicação. Você pensa sobre as suas adversidades, reflete sobre elas. Você é um cara, uma moça inteligente, você vai pensar sobre tudo que aconteceu com você, e as coisas nas quais você pensa mais são as que precisam da sua atenção.
Você precisa mudar as suas crenças.
Crenças
Todas as adversidades pedem, imploram por uma explicação. Tem coisas que são impossíveis de explicar, a morte é uma delas.
Todas as outras coisas podem ser explicadas. Desde um furo na dieta, porque você comeu que nem um porco no final de semana, até uma falha no seu relacionamento.
Enquanto a adversidade é um retrato estático do que aconteceu, a sua crença molda esse retrato e te dá uma interpretação do que aconteceu.
Em outras palavras, você como ser humano racional sempre procura explicar, dar sentido (sensemaking) para as adversidades. É mais do que interpretação, é a racionalização do sentido disso para a sua vida.
As crenças são poderosas, porque elas que apontam o dedo para as outras pessoas, ou para você mesmo. Se você comeu que nem um porco no final de semana, é culpa tua. Se alguém te decepcionou, você pode acreditar que é culpa tua, ou que é culpa do outro.
São as tuas crenças que levam até as consequências da adversidade. Elas são o caminho. A seta que conecta o que aconteceu e qual vai ser a tua reação.
Consequências
Geralmente as consequências vem em forma de sentimentos primeiro, e ações depois.
Quando você tá puto, você faz cagada. Quando você tá triste, você se comporta de maneira triste. Quando você tá feliz, você se comporta de maneira feliz. Entendeu a ligação?
Como isso funciona na prática?
Vamos supor que você esteja estudando pra uma prova. Você estudou 3 horas por dia, durante 1 mês. São mais ou menos 60h de estudo. Quase 3 dias inteiros estudando.
Você faz a prova, e você falha. Sua nota não foi boa. A prova foi mais difícil que você esperava. Você não passou. Essa é a adversidade.
Você pode ter algumas crenças como resultado disso
- Eu não estudei o suficiente. Eu poderia ter estudado 4 horas por dia.
- Eu não sabia que a prova seria tão difícil. Eu poderia ter me informado melhor sobre a prova.
- Eu sou burro. Eu não presto pra nenhuma prova.
- Provas são ridículas, elas não medem nada. Elas medem decoreba
Essas crenças vão determinar, eu repito, as suas crenças DETERMINAM as consequências.
Para uma próxima prova, as consequências das crenças 1, 2, 3, e 4, respectivamente, podem ser, por exemplo:
- Vou estudar mais, vou começar com 4 horas por dia, e colocar umas 2h nos finais de semana.
- Eu vou me informar melhor sobre as próximas provas, e saber exatamente o que preciso estudar.
- Não vou fazer a prova. Eu desisti. Eu não consigo fazer provas.
- De que adianta estudar? Eu vou ter que é decorar essas coisas. Que merda, eu não sei o que fazer
A mesma adversidade, para 4 pessoas, teve 4 explicações (crenças) diferentes. Essas 4 crenças diferentes geraram 4 ações diferentes.
E é nesse ponto que saber disso pode mudar a sua vida.
Como adversidades, crenças, e consequências mudam a sua vida?
Simples. Há algum tempo, eu venho falando pra você de psicologia positiva. Acho que preciso trabalhar em um resumo, em um livro sobre isso, talvez. Talvez seja meu primeiro vídeo no Youtube – tá no plano já.
Mas vamos enfatizar a mudança. Se você não pode mudar as adversidades, você pode mudar as consequências delas. E para mudar as consequências das adversidades, você precisa mudar as suas crenças.
Finalmente, rufem os tambores.
Para mudar as crenças, você precisa encarar as coisas de uma maneira otimista.
Para quem me acompanha há um tempo, sabe que encarar as coisas de uma maneira otimista significa:
- Não generalizar
- Não personalizar
- Não acreditar que é pra sempre
Eu explico:
Não generalizar
Algumas pessoas generalizam a adversidade. Para elas, é uma coisa que vai acabar com todas as áreas da vida delas.
Então, se você comeu que nem um porco no final de semana, significa que você não tem autocontrole (generalização). Se você não tem autocontrole, tem uma crença, uma desculpa pronta pra não ter autocontrole no trabalho, no teu relacionamento, e na tua vida inteira.
A generalização de uma adversidade fodeu com a tua vida inteira.
Ter ciência de que uma adversidade é só uma adversidade pontual, e que aconteceu em uma área da tua vida, é que te habilita a seguir os seus projetos em outras áreas da vida.
Algo que aconteceu no teu trabalho não precisa se espalhar pra tua família, cara.
Não personalizar
Algumas pessoas personalizam a adversidade. São aquelas pessoas que são dignas de pena, porque tudo de ruim acontece com elas e tudo é culpa delas. Nada que elas fazem dá certo, e tudo que elas tocam, apodrece.
Então, se alguém foi estúpido com elas, elas são culpadas. Elas acreditam que mereceram a estupidez, e que estão abaixo dos demais.
Ter ciência de que uma adversidade não é culpa sua, mas sim de uma série infinita de variáveis (teoria do caos e da complexidade) é que te habilita a retomar a sua auto-estima e seguir a sua vida.
Só porque algo ruim aconteceu com você não significa que a culpa seja sua. Nada é culpa exclusivamente sua.
Não acreditar que é pra sempre
Algumas pessoas pensam que tudo de ruim que acontece vai durar pra sempre. Seja a morte de alguém, seja não passar em uma prova. Tudo de ruim vai durar pra sempre, e essa pessoa nunca vai conseguir superar. Não importa o que ela fizer, vai durar pra sempre.
Então, se essa pessoa foi mal na prova, é porque ela é burra, e ponto final. Ela é assim, e será assim pra sempre. Afinal, pessoas não mudam. Ela deve ter algum déficit cognitivo, sei lá. É pra sempre.
Ter ciência de que nenhuma adversidade é pra sempre, mas que tudo muda, até bermuda, é que te habilita a retomar o controle sobre as coisas.
Eu sei que todo mundo adoraria ter mais dinheiro. Mas nós temos uma coisa muito melhor que dinheiro, que é o tempo. Você tem muito tempo pela frente, e pode mudar o que você quiser, cara.
Só porque uma coisa ruim aconteceu, não significa que vai durar pra sempre. Isso vai passar.
A Moral da História
Você precisa entender que nenhuma adversidade é pessoal, geral, ou para sempre. Tudo tem mais causas do que parece, nada afeta a sua vida pra sempre, nem tem consequências para todas as áreas dela.
Você entendendo isso, pode mudar de forma fundamental as suas crenças.
Quer um exemplo meu? Beleza. Foi assim que eu perdi 50kg:
ACC do Caio – Obesidade
- Adversidade: O Caio tem 140kgs em 2015. Ele vai morrer com uns 50 anos. O colesterol e os triglicerídeos estão altos. A pressão também.
- Crença que mantém a obesidade: Os pais do Caio são gordos, logo, o Caio também é. Não há nada que ele possa fazer, está na genética dele. Além disso, dietas não funcionam com ele. Ele não tem força de vontade pra fazer dieta.
- Consequência que mantém a obesidade: Se ele não tem força de vontade pra fazer dieta, ele não faz. Dietas não funcionam. Da mesma maneira, ele não tem força de vontade pra fazer academia, pra estudar, pra cuidar dos seus relacionamentos. O Caio não tem amigos, não está saudável, e não tem inteligência.
- Crença que acabou com a obesidade: O Caio vai tentar. E vai continuar tentando mesmo se der errado. Não importa o que acontecer, o Caio vai continuar a tentar, até conseguir.
- Consequência que acabou com a obesidade: O Caio tentou, e chegou uma hora que se acostumou a tentar e conseguiu. Ele preferiu se ater a uma dieta do que tentar outra. Ele criou o hábito de ir pra academia e aprendeu a comer.
Eu peguei as crenças que eram gerais (falta de autocontrole e falta de disciplina em todas as áreas da vida) e permanentes (eu sempre seria gordo e obeso, eu nunca conseguiria ter autocontrole), e transformei isso em tentativas.
Na última tentativa, deu certo. Eu consegui. Eu mudei a minha maneira de pensar, eu podia sim, me controlar. Porque eu consigo tudo o que eu quero. Basta ter garra, correr atrás, e ter resiliência.
Eu encarei as falhas que eu tive como pontuais, como coisas que acontecem, e retomei logo em seguida o rumo certo. Eu não me deixei abalar pelos deslizes, e segui me controlando.
Depois de comer que nem um porco no final de semana, eu não acreditava que “pronto, fodi com tudo o que eu fiz até agora, caguei com toda a dieta, então vou comer mais ainda”. Eu pensava “beleza, você falhou, agora vamos voltar ao que você realmente é, um cara que tá se esforçando e merece conseguir”.
Esse é o grande segredo da resiliência, cara. Foi assim que mudar as crenças e consequências da adversidade mudaram a minha vida.
Como que você ta fazendo pra mudar a tua vida?
Pra ser melhor na tua carreira e no teu trabalho? Pra ser melhor pra tua família e pra você mesmo?
Tudo o que eu escrevo aqui é pra você. Não é pra mim. Eu preciso ajudar as pessoas, e o que me recompensa por isso são os feedbacks que eu recebo. De pessoas que gostaram do que eu escrevi, e começam a me seguir aqui ou no facebook.
Eu tenho também uma lista de emails das pessoas que sempre conversam comigo. São aqueles que querem mudar a vida deles, e vem que eu posso ajudar a fazer isso.
Se você tá querendo melhorar a tua vida, seja profissional, seja pessoal, eu acho que pode ser útil pra você fazer parte dessa galera aí. Afinal, a gente tá junto pra aprender e trocar ideias, cara.
REFERÊNCIAS
Seligman, M. E. (2006). Learned optimism: How to change your mind and your life. Vintage.
Ellis, A. (1973). Humanistic psychotherapy: The rational-emotive approach. Three Rivers Press
Duckworth, A. (2016). Grit: The power of passion and perseverance (Vol. 124). New York, NY: Scribner
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