Eu lembro, há 8 anos atrás, quando eu tava entrando na faculdade de administração, que eu ganhei meu primeiro livro sobre liderança.
“O Monge e o Executivo: Uma história sobre a essência da liderança”.
Lindo livro. Uma história realmente contagiante e de transformação.
Um livro curto, cuja principal mensagem é “ser um líder servidor”, isto é, você para ser um líder, precisa servir os outros, ao invés de esperar que os outros te sirvam.
Faz sentido, porque a maioria das pessoas acreditam em reciprocidade. Se você faz uma coisa boa pra alguém, é provável que essa pessoa te devolva outra coisa boa, certo?
Sensacional. Agora, eu só senti falta da parte do executivo.
Como assim?
Pois é. O cara é um executivo que vai pra um retiro porque ele tá estressado e porque uma voz interna diz pra ele achar um cara chamado “Simeão”. Sério mesmo.
E ele vai pra esse retiro porque ele fica sabendo que um grande executivo virou um monge lá, o tal de Len Hoffman. Que depois a gente descobre que recebeu o nome de “Simeão”.
Mas como pode um livro sobre liderança ignorar um aspecto tão importante da vida em organizações, que é a gestão?
Por que as pessoas ficam separando a liderança da gestão e a gestão da liderança, como se uma acontecesse sem a outra?
Teoria e Prática
A gente aprende na faculdade que:
- O Líder é aquele que faz as coisas certas e age como um facilitador para mudanças
- O Gestor é aquele que faz certo as coisas e lida com a incerteza e complexidade
Será que a gente tem mesmo como separar um líder do gestor?
Porque nem eu nem Mintzberg conseguimos separar uma coisa da outra na prática. Na teoria é lindo. É a diferença entre eficiência e eficácia, que tem ZERO aplicação prática, na minha opinião, mas só falta alguém escrever um livro sobre isso.
Pra começo de história, pra que separar liderança da gestão? Ou separar a gestão da liderança?
Da mesma maneira que a gente não consegue separar as estrelas da noite, ou o sol do dia, não tem como tirar uma coisa da outra, a não ser conceitualmente.
Porque, imagine um líder que não sabe gerenciar. Ou ainda, um gerente que não sabe liderar. Os dois não levam nada a coisa nenhuma, não são nem líderes nem gerentes.
E daí a gente começa a se preocupar tanto com liderança, que a gente só olha para os aspectos macros e bonitos da organização. Afinal, todo líder é estratégico, não é operacional.
Todo líder parece uma figura intocável, insubstituível, carismática e inteligente. O problema é que todos querem ser líderes, e francamente, não tem como, cara.
Há alguns anos atrás, as pessoas reclamavam de falta de liderança e excesso de gestão. O problema é que a balança se inverteu. Agora a gente tem liderança demais e gestão de menos.
O que é liderança, afinal?
Uma busca rápida no google, e abrindo as três primeiras páginas sobre o assunto, vai te ajudar a responder isso.
Jogue lá: “definição de liderança”. Eu te espero.
Blogs vão surgir conceituando liderança. Liderança autocrática, liderança democrática, e liderança liberal.
Tem um doido parecido comigo que joga as teorias da liderança junto (apesar de não colocar as referências das teorias e falar algumas cagadas)
E outro site de uma federação de coaching que volta ao conceito de liderança.
Qual a conclusão disso?
NINGUÉM SABE DO QUE TÁ FALANDO, CARA!
Liderança é um conceito. PONTO. Não existe liderança fora da teoria!
- Liderança autocrática: é o chefe que quer botar tudo por guela abaixo
- Liderança democrática: é o chefe que pede a tua opinião antes de botar as coisas guela abaixo
- Liderança liberal: é o chefe que terceiriza a tomada de decisão.
E daí vem um outro doido e coloca umas teorias psicológicas como se fossem teorias de liderança. Ah, faça-me o favor.
Ao invés de ficar perguntando nos grupinhos de facebook e nas aulinhas de faculdade “ai, qual a diferença entre chefe e líder”, a gente devia se perguntar, “tem como separar o chefe do líder?
Porque pelo menos da última vez que eu olhei, todo líder é chefe, e todo chefe é líder. E tanto o chefe quanto o líder não conseguem fazer nada se não sabem um mínimo de gestão.
Logo, meu querido, minha querida, os GESTORES são chefes e líderes. O que as pessoas chamam de liderança não passa de uma gestão muito bem feita.
Como aprender a ser um líder?
Eu quero que você tente perceber que quanto mais a gente fala de liderança, menos a gente tem liderança.
Tem faculdade com pós graduação em liderança, tem cursos de liderança, tem tudo de liderança. Livros que te ensinam a ser um melhor líder. Especialistas e palestrantes sobre liderança.
A gente cai em um erro semântico bizarro quando quer promover a liderança pra todo mundo, cara.
Porque líderes, para serem líderes, tem que ter seguidores. Se todos forem líderes, onde estarão os seguidores?
Então o que acontece? A gente acaba esquecendo do coletivo para focar em uma só pessoa: o líder salvador da pátria. O Bolsonaro ou o Lula.
Só que nem o Bolsonaro nem o Lula são salvadores da pátria. Eles não fazem porra nenhuma, cara. Eles são gestores. Eles não são absolutamente nada sem as outras pessoas.
A liderança é uma parte natural da gestão. E a gestão implica ter um bando de gente subordinada a um cara cujo papel é de “liderar”.
Então, o que as pessoas não perceberam, é que quanto melhor elas fizerem o trabalho delas, quanto melhor elas se relacionarem com as pessoas, melhores líderes elas serão.
A liderança é parte de uma comunidade. Não a estrela mais brilhante do céu.
A liderança é gestão. E gestão se aprende, sim, lendo. Mas se aprende, também, na prática. No dia-a-dia. No front de batalha. Na experiência.
A Moral da História
Se eu pudesse fazer você gravar uma parte só do que eu disse aqui, seria:
Não tem como separar a liderança da gestão. Gestão é liderança, e liderança é gestão. Se a gente esquece um lado, o outro vai ficar capenga. São as duas pernas que fazem um coletivo de pessoas andar.
E eu falo isso relutantemente, até, porque eu sou um cara que acredita em ciência. Mas tenho que admitir que a gestão não é só ciência. Eu concordo com Mintzberg, que diz que gestão é um pouco ciência, um pouco prática, e um pouco arte.
Assim como na medicina, você pode estudar o quanto quiser o procedimento para fazer um transplante de pulmão. Se você nunca for lá, assistir um, praticar, e colocar a mão na massa (ou no órgão), nunca vai saber como fazer.
Por isso eu sempre digo que o que é planejado não funciona. Por isso eu falo do valor da improvisação e da confiança de que tudo vai dar certo.
Uma metáfora que sempre usam em liderança é que o líder é o maestro. Beleza, quero ver o maestro fazer alguma coisa sem os músicos. E mesmo o maestro com os músicos, não faz nada sem o compositor.
No final, o gestor, o líder, é aquele cara que é responsável por fazer as engrenagens girarem. Só que uma engrenagem não gira sozinha, ela precisa das outras para fazer as coisas funcionarem.
E você aqui tá presenciando esse sistema de engrenagens, funcionar em pleno vapor.
Não, eu não me considero um líder. Eu me considero uma engrenagem parte de um sistema.
Uma engrenagem responsável por dar conhecimento pras pessoas que estão procurando, mas sem besteirol. Sem ilusões ou histórias bonitinhas. Os fatos crus. A verdade dura. Baseada em ciência, não em palpite.
Mais precisamente, tem algumas pessoas que fazem parte desse sistema, e recebem emails meus toda semana. São cartas sobre desenvolvimento pessoal, que tem um altíssimo retorno sobre o investimento em leitura.
Investimento em leitura porque eu não cobro nada por isso. Essas pessoas ainda tem um “counselling” grátis quando quiserem.
E elas ainda ganham meu livro sobre estratégia, com 89 perguntas que eu tenho certeza que tirariam muitas empresas das estatísticas de falência do Sebrae.
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REFERÊNCIAS
Mintzberg, H. (2009). Managing. Berrett-Koehler Publishers
Weick, K. E. (1995). Sensemaking in organizations(Vol. 3). Sage
Weick, K. E. (1987). Substitutes for strategy. The competitive challenge, 211, 233.