Por que eu odeio quem fala que pessoas não mudam

décadas eu escuto adágios populares relacionados ao comportamento das pessoas.

Uma vez eu te disse aqui que um chefe que eu tive falava: “Onde tem gente, tem merda”, e só faltava vestir uma camiseta escrito isso de tão orgulhoso que estava da sua conclusão.

Quantas vezes eu já não ouvi outra máxima: “Não adianta, as pessoas não mudam, não tem o que fazer”.

Nos últimos anos, eu me interessei muito por isso, cara. Como assim as pessoas não mudam?

E eu procurei me tornar um exemplo contra isso. Eu perdi 50 kg. Eu parei de dormir às 3h da manhã e hoje acordo entre 4 e 5 da manhã todo dia. Eu parei de ser um sedentário e hoje vou pra academia 5 a 6 vezes por semana.

Eu parei de ser burro e pegar dependência na faculdade e estou tentando entrar no doutorado. Eu parei de reclamar da política e me filiei ao partido NOVO. Eu parei de reclamar da minha vida, de que ninguém me valoriza como profissional, e estou aqui dando de graça tudo que eu sei pra você.

Quem fala que as pessoas não mudam estão redondamente enganadas. Eu sou uma prova disso.

Mas qual é a desculpa de sempre pra quem fala isso?

Eu sou um outlier. Eu sou um cara contaminado, que já nasceu com tudo isso, que nasceu com um QI alto e com grandes possibilidades.

Aí fica fácil de argumentar, né.

Mas eu entendo essas pessoas, e você vai entender duas coisas sobre isso a seguir:

  1. Por que algumas pessoas pensam que elas não podem mudar
  2. Por que eu odeio as pessoas que pensam que elas não podem mudar

O Conceito Velho de Caráter

Humanos há muito tempo vem tentando explicar o comportamento das pessoas. A gente sempre se perguntou isso, e há cem anos atrás, ou mais, a gente pensava que as pessoas não eram capazes de mudar.

Pessoas são ruins, más e criminosas. Isso é parte delas. Elas nasceram assim. É assim que a gente descreve o comportamento ruim. Vamos deixá-las apodrecer em prisões pelo resto da vida.

As pessoas são loucas, fora da casinha, e é impossível mudar isso. Por isso, vamos enfurná-las em hospícios pelo resto da vida.

As pessoas são estúpidas, burras, e irracionais. Não adianta botar na escola ou na faculdade, elas não conseguem aprender. Vamos dar sub-empregos para elas pelo menos sobreviverem.

Como profecias, essas palavras são auto-realizáveis.

As pessoas que acreditam que são estúpidas, de fato, deixam de acreditar que podem melhorar. Então elas não tentam.

A sociedade que vê criminosos como pessoas más, e loucos como doentes, enfatiza a vingança em prisões e hospícios, ao invés da reabilitação.

Não é por acaso que Bolsonaro está aí. O Brasil e a sua população vivem há 100 anos atrás.

Behaviorismo – Uma luz no fim do túnel

Com o tempo, essas explicações aqui em cima foram sumindo dos paradigmas da psicologia.

Ao invés de pensar em criminosos, loucos, e idiotas como pessoas ruins, doentes, e burras, respectivamente, começamos a pensar de que é tudo culpa do ambiente.

Criminosos não tiveram amor na infância, logo, são incapazes de sentir amor na vida adulta.

Ou ainda, criminosos não tiveram educação.

Ou ainda, criminosos são pobres e precisam sobreviver.

Para esses psicólogos, ignorância é falta de educação na infância. Pobreza é falta de oportunidade, e não preguiça. Loucos são vítimas de hábitos e acontecimentos ruins, não de doenças mentais.

Aqui, a gente começou a perceber que as pessoas podem mudar. Mas foi com o próximo passo que a gente, de fato, começou a tratar humanos de forma realmente digna.

Porque com o behaviorismo, ainda, precisávamos de um psicólogo ou psiquiatra para a cura. O indivíduo era julgado incapaz de curar ele mesmo dos males que atrapalhavam a sua vida.

Afinal, como o peixe sabe que está nadando na água? É impossível alguém tão imerso em seus problemas sair dessa sinuca de bico.

Psicologia Cognitiva

Com a psicologia cognitiva, surge a tese de que o indivíduo pode curar, melhorar ele mesmo. Ou seja, mudar.

Ao invés de culpar todos os males individuais em fatores genéticos, biológicos, e ambientais, as pessoas começaram a perceber que elas podiam sim escolher mudar.

Qualquer um pode mudar, ser mais magro, mais fisicamente ativo, mais inteligente, mais trabalhador, mais presente pra família, mais forte, menos pessimista, mais saudável.

Qualquer um pode mudar, trabalhar para baixar a pressão, controlar a diabetes, baixar o colesterol ruim e aumentar o colesterol bom.

Todo mundo sabe que hoje, procurando no google ou consultando um médico, você tem um passo-a-passo de como fazer tudo isso, e basta você fazer, sem depender de tratamentos caros ou vendedores de óleo de cobra.

Essa crença de que nós podemos tomar atitudes conscientes para melhorar e mudar é tão auto-realizadora quanto a crença de que não podemos melhorar ou mudar.

Afinal, aqueles que não acreditam em mudança não mudam, e aqueles que acreditam em mudança, mudam. É simples assim.

Terapia Cognitiva

Você pode mudar você mesmo.

É claro que com um psicólogo é mais fácil, especialmente se ele não for psicanalista. Você já sabe que eu acho uma grande cagada essa coisa de falar e ruminar em voz alta. Principalmente porque não tem mudança aí no meio, só a recapitulação de coisas ruins.

Mas qualquer ajuda é melhor que nenhuma ajuda, às vezes.

Na verdade, fazer isso sozinho é relativamente simples, e acontece em cinco passos.

Esses foram os passos que eu tomei pra mudar minha vida. São os passos que mudam a minha vida todo dia, na verdade.

Talvez eu faça um artigo sobre isso depois, então vou ser bem breve.

  • Reconheça os pensamentos automáticos da tua cabeça.

Da mesma maneira que a tua primeira reação quando você deixa um copo cair no chão e quebrar em pedacinhos é um “puuuuuta que pariu, que cagada”, você tem outras reações automáticas quando pensa qualquer coisa que acontece com você.

Por exemplo, você tirou uma nota muito baixa na prova, ou ainda, você fez uma grande cagada no trabalho.

Você pode muito bem pensar que você é muito burro, ou que você é um incompetente. Isso é normal. Mas poucos reconhecem que pensam isso. E esses pensamentos te fazem mal.

Reconheça os pensamentos automáticos que te fazem mal. 

  • Desafie os seus pensamentos automáticos.

Logo depois de pensar que você é um asno depois de fazer cagada no trabalho, ou um burro depois de tirar uma nota baixa, você pode pensar em coisas que você já fez que contrariem isso.

Se você recebeu uma nota ruim, ao invés de pensar em como você é burro, pode pensar que você estudou pouco, e poderia ter estudado mais. Você não é burro, você só não estudou o suficiente, cara.

Se você tomou uma comida de rabo do chefe, ao invés de pensar que você é incompetente, pode pensar que você sempre chega no horário, você sempre faz o que precisa fazer, você sempre deu o sangue pelo trabalho.

Você não é as coisas ruins que você pensa sobre você mesmo. Você fez várias coisas boas, bicho, e precisa se lembrar delas sempre. SEMPRE.

  • Crie o hábito de explicar as coisas de maneira diferente

Agora que você tem um rol de causas para um evento ruim, tá na hora de você mudar as suas explicações.

Você não tirou nota baixa porque você é burro, e sim porque você não estudou. E isso acontece porque ninguém é burro, só porque algumas pessoas escolhem estudar, e outras escolhem ver TV.

Você tomou uma comida de rabo não porque você foi incompetente, mas sim porque teu chefe tava de cu virado no dia e não viu tudo o que você fez pela empresa e pelo seu trabalho.

As coisas ruins que acontecem com você não são exclusivamente culpa sua, nem durarão pra sempre, nem acabarão com suas outras perspectivas na vida. Elas são coisas ruins normais, fora do seu controle, que passarão em algum tempo, e que você conseguirá superar.

Isso acontece muito comigo quando eu como um doce. Estou de dieta e como um doce. A minha reação já foi a seguinte: “comi um doce, logo, sou um bosta e não sirvo pra fazer dieta. Vou comer o resto do doce”.

A minha reação hoje é a seguinte: “comi um doce. Bom, eu tava com vontade mesmo. Vamos voltar pra dieta agora”.

  • Explicando as coisas de maneira diferente, você aprende a parar de ruminar

Eu já coloquei um post aqui que responde que você pode ser mais feliz parando de ser uma vaca -> Quer ser mais feliz? Pare de ser uma Vaca.

Para parar de ser uma vaca, você precisa aprender a se distrair de pensamentos que te fazem mal.

E dando explicações diferentes para pensamentos que um dia eram automáticos, você aprende que pode controlar o que você pensa.

Assim, você se distrai com outras coisas, e para de ser uma vaca!

  • Por último, parabéns. Você aprendeu a mudar como você pensa as coisas

Ao invés de pensar que todo mundo precisa gostar de você, se não você é um fracasso, você aprende a pensar que pra cada pessoa que gosta de você vai ter outra que não gosta de você, e que isso é completamente natural.

Ao invés de pensar que você tá encalhado e não merece amor – porque todo mundo precisa de amor pra viver – , você aprende a pensar que amor é uma coisa muito importante, mas muito rara também.

Você aprende a mudar sozinho, só reformulando as suas explicações automáticas pras coisas ruins que acontecem com você.

E é por isso que eu odeio as pessoas que falam que as pessoas não mudam. Elas ficam promovendo profecias auto-realizáveis sobre pessoas. E porque elas não querem mudar, generalizam falando que outros não mudam.

Pessoas mudam sim, e você já deu o primeiro passo. Você tá aqui, lendo isso, e já foram 1600 palavras lidas.

Devagar e sempre, palavra por palavra, a gente vai melhorando, juntos. Eu faço esses artigos porque eu aprendo muito, e me forço a ler todo dia pra dar conteúdo de graça e de qualidade pra você.

E eu quero te agradecer por estar aqui comigo, cara. De verdade. É muito importante pra mim ver que as pessoas estão querendo mudar as suas vidas, e que eu tô ajudando elas nisso.

Eu vou além desses artigos aqui. Toda semana, eu mando um email pra uma galera de gente. Os emails sempre tem essa pegada de desenvolvimento pessoal e desenvolvimento humano, e a gente sempre discute sobre isso, e fala dos casos particulares deles.

Se você quer se desenvolver mesmo, esse é o segundo passo, depois de ler esse post.

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REFERÊNCIAS

Seligman, M. E. (2006). Learned optimism: How to change your mind and your life. Vintage

Dweck, C. S. (2008). Mindset: The new psychology of success. Random House Digital, Inc

Seligman, M. E. (2012). Flourish: A visionary new understanding of happiness and well-being. Simon and Schuste

Photo by Thought Catalog on Unsplash

 

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