Vaca no sentido real da palavra. Não no sentido figurado.
Tem gente que é uma vaca. Coitado do bicho. Qualquer mulher que se comporte de maneira estúpida e arrogante com alguém vira uma vaca.
Mas não é nesse sentido que eu quero tocar. Eu quero falar da Vaca por si mesmo.
As vacas são animais ruminantes. Isto é, elas comem a grama, mastigam, mastigam, mastigam, mastigam, mastigam, e engolem.
Depois de engolir, elas vomitam na própria boca (eca), e voltam a mastigar o vômito (eca ao quadrado), e mastigam, mastigam, mastigam, mastigam, mastigam.
Assim como as vacas, algumas pessoas fazem isso com pensamentos.
Vamos supor que a grama seja um pensamento ruim, um fracasso, uma coisa ruim que aconteceu com você. Você tem duas saídas possíveis:
- Mastigar, mastigar, mastigar, mastigar, engolir, vomitar, mastigar, mastigar, mastigar.
- Mastigar, engolir, e partir pra outra.
Você sabe qual a coisa certa a fazer. Mas tem gente que fica mastigando coisas ruins ad infinitum, ou seja, pra sempre.
Permanência, Generalização, e Personalização
Esse é o trítono do diabo, bicho.
Um dos melhores preditores da depressão em humanos tem a ver com essas três palavrinhas que poucas pessoas estão prestando atenção.
Já tentamos de tudo contra a tristeza. Álcool, anti-depressivos, terapia eletroconvulsiva, psicanálise, coaching, religião, etc.
Tem laboratórios que fazem MUITA grana vendendo calmantes ou estimulantes. Tem coaches e psicólogos que fazem MUITA grana aplicando a “cura pela fala” freudiana.
Nem preciso falar das empresas que vendem bebidas, né?
Mas ninguém tá prestando atenção em como a gente pensa sobre as coisas ruins que acontecem com a gente.
E elas vem nesses três sabores: Permanência, Generalização, e Personalização.
Permanência
Para pessoas tristes, desmotivadas, ansiosas, e depressivas, coisas ruins são permanentes e durarão a vida inteira.
É uma sensação de falta de esperança. As coisas vão piorar com certeza, porque coisas ruins são para sempre, e coisas boas duram pouco.
Por exemplo, você pode pensar que você sempre será ruim em matemática, ou que você nunca aprenderá alguma coisa que precisa aprender. Então você desiste, e fica depressivo (triste) por causa disso.
Por outro lado, ao invés de pensar em coisas boas como permanentes também, pessoas tristes geralmente invertem a lógica, e pensam que coisas boas são passageiras.
O segredo está em inverter essa lógica. Falei sobre isso aqui.
Generalização
Para pessoas tristes, desmotivadas, ansiosas, e depressivas, coisas ruins são universais e são uma foto da sua vida como um todo.
Se você fez cagada no trabalho, você vai fazer cagada nos estudos, na família, na igreja, e em todas as áreas da tua vida.
E essa cagada que você fez vai complicar todos os aspectos da tua vida. Uma micro-cagada vira uma macro-cagada, e a tua vida tá acabada por causa dessa cagadinha que virou cagadona.
Similarmente com a dimensão da permanência, as pessoas tristes não usam a mesma técnica pras coisas boas que elas fazem.
As coisas boas que as pessoas tristes fazem são pontuais, e não universais. Se ela fez algo de bom no trabalho, foi sorte, ou só dessa vez, porque é claro que ela não é capaz de replicar isso pra todas as áreas da vida dela.
Eu falei mais sobre isso aqui!
Personalização
Essa eu só falei pra quem recebe os meus emails, mas vou dar uma pincelada aqui sobre isso!
Enquanto as dimensões de permanência e generalização tem relação com o seu otimismo e são diretamente relacionadas à sua felicidade…
A personalização das coisas boas e ruins está diretamente relacionada à sua auto-estima, outro componente fundamental pra você ter uma vida mais feliz.
Por exemplo, se aconteceu uma cagada no trabalho, você precisa jogar a culpa nos outros e seguir em frente.
E por jogar a culpa nos outros, eu não digo necessariamente em outras pessoas, mas sim tendo em mente a noção de amor fati de Nietszche, ou seja, não poderia ter sido diferente, não dependia só de você, deu cagada por outras condições, e vamos em frente.
E é claro que quando coisas boas acontecem, aí os louros são seus. Você precisa pensar de uma maneira que te glorifique e te coloque pra cima.
Isso dá muito pano pra manga, e pras pessoas que recebem meus emails eu mandei um artigo bem legal, ontem mesmo, sobre isso. Se você quiser saber mais sobre isso, leia até o final que eu te conto mais.
Ruminação e a história da vaca
Voltamos à nossa estrela de hoje, a Vaca.
Aqui em cima eu fiz um resumo das três dimensões do otimismo e auto-estima. O pressuposto é claro, quanto mais otimismo e mais auto-estima, mais felicidade e produtividade. Não tem segredo.
Um pouco sobre psicologia antes da vaca
Psicólogos da corrente positiva estão usando isso que eu vou te falar para tratar depressão. Todos os estudos são publicados em revistas científicas com revisão por pares.
Eles batem de frente contra os psicólogos estrelinhas, como Freud, Jung, e Lacan, e também mostram um grande dedo do meio praqueles que acreditam que tudo é biológico.
E em uma dessas pesquisas, eles descobriram uma coisa interessantíssima.
Por um acaso, eles estavam se perguntando porque mulheres tem duas vezes mais chance de ser depressivas do que homens.
Eles descobriram que as razões não são biológicas, isto é, que não tem nada a ver com o fato de o cérebro (e a mulher como um todo) ser diferente do homem.
Eles também descobriram que as razões não são genéticas, isto é, que não tem nada a ver com o fato de a mãe ser depressiva também.
Eles ficaram em dúvida se as razões podem ser de educação e desenvolvimento, isto é, meninas são criadas diferentes de meninos.
Enquanto pais deixam meninos se esfolarem no asfalto, as meninas são colocadas em uma redoma de vidro. Isso pode ter alguma correlação com o número de mulheres depressivas ser o dobro do número de homens depressivos.
Mas eles tem certeza de uma razão. As mulheres se comportam mais como vacas do que os homens.
E isso não significa que os homens também não se comportam como vacas, antes que alguém venha me acusar de se machista, misógeno, cis, e demais blá blá blás.
Vamos à história da vaca, de uma vez por todas!
A história da vaca
A linha de raciocínio é muito simples, e a sua avó já sabia disso.
Pessoas depressivas tendem a ruminar sobre seus problemas, enquanto pessoas não depressivas procuram ignorar os seus problemas. (Veja que isso vai contra toda a escola freudiana de cura pela fala).
Funciona assim, pessoas depressivas revivem as situações ruins, e vivem se perguntando o por quê das coisas. Elas pensam no que elas poderiam ter feito de diferente. Elas pensam no que poderiam ter falado, como poderiam ter agido melhor, como poderiam ter se saído.
A coisa ruim, o fracasso acontece, e ele passa. Mas na cabeça das pessoas depressivas, o fracasso não passa. Ele fica. E a pessoa encoraja ele a ficar fazendo perguntas para ela mesma de como poderia ter sido diferente.
A pessoa depressiva acaba vivendo no passado na sua cabeça, pensando em uma coisa ruim que aconteceu há dias atrás.
Eu entendo perfeitamente isso. Eu me comporto assim às vezes. Eu penso no que eu poderia ter feito de diferente. Eu tenho atitudes de vaca também.
O problema é que isso não é mera reflexão, isso é veneno em forma de pensamento. Porque teu pensamento tem o poder de moldar tudo o que você faz. Tudo o que você faz começa com um pensamento, inclusive como você se sente.
Os estudos mostram que pessoas felizes deixam as coisas ruins passarem. Elas não se perguntam porque o que aconteceu aconteceu, de quem é a culpa, o que vai acontecer agora, nem quais as consequências.
Passou, bicho. Virou a página. Bloqueou o celular. Apagou o quadro. Jogou pela janela. Já era.
O problema é que várias pessoas tristes e paralisadas tem dificuldade em virar a página. Elas ruminam, como as vacas.
A Moral da História
Quando alguma coisa ruim acontecer com você, você pode pensar de diversas maneiras como essa coisa ruim vai afetar a sua vida.
- Ela pode ser permanente ou temporária
- Ela pode ser universal ou localizada
- Ela pode ser pessoal ou culpa de outros
Nada nesse mundo dura pra sempre, afeta as outras áreas da sua vida, e/ou são sua responsabilidade.
O problema da vaca é que as pessoas ficam mastigando os fracassos, e isso coloca elas em um estado de paralisia, de desesperança, de desamparo.
Não tente analisar o seu humor, nem tentar descobrir porque você está se sentindo mal.
Você é um trator, bicho, você passa por cima de tudo, destruindo as coisas ruins que aparecem como se fossem gravetos.
Não pense em coisas ruins, não pense sobre seus fracassos. Pense sobre as suas ações. Pensa no que você vai fazer a seguir, e não no que você fez no passado.
Se distraia. Faça trabalho voluntário. Saia de casa, assista um filme, e NÃO PENSE COISAS RUINS.
Eu não consigo enfatizar isso o suficiente. Isso é ciência, não é palpite. As referências estarão aqui embaixo.
Falando em estar aqui embaixo, eu quero te dizer uma coisa.
Você viu que no meio do artigo eu falei de um email que eu mandei, né? Você recebeu?
Pois é, tem coisas que eu só mando por email, cara. Geralmente as mais importantes.
Por que? Bom, eu encaro assim. Eu tenho o dever de “traduzir” a ciência para todas as pessoas. Em dois sentidos. Primeiro que a língua da ciência é o inglês. Segundo que mesmo traduzindo pro português, a língua acadêmica não é amigável. É difícil de entender.
Tudo que eu faço aqui é “traduzir” a ciência pra você. E pras pessoas que querem mais, eu mando as coisas mais importantes.
Eu tenho um grupo de pessoas que estão na minha lista de emails. Eu encaro elas como as pessoas que mais querem se desenvolver neste Brasil, e elas tem tratamento especial.
A gente sempre conversa, sempre por email, e muitas até tem meu telefone pessoal pra conversar. A gente senta em cafés e conversa. Nada pago, tudo de graça.
Se você realmente quer se desenvolver, essa galera vai te ajudar.
REFERÊNCIAS
Seligman, M. E. (2006). Learned optimism: How to change your mind and your life. Vintage
Nolen-Hoeksema, S. (1991). Responses to depression and their effects on the duration of depressive episodes. Journal of abnormal psychology, 100(4), 569.
Nolen-Hoeksema, S., Wisco, B. E., & Lyubomirsky, S. (2008). Rethinking rumination. Perspectives on psychological science, 3(5), 400-424.
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Um comentário em “Quer ser mais feliz? Pare de ser uma Vaca.”