Como você justifica as coisas que acontecem com você?
Vamos pegar como exemplo um princípio muito famoso: o efeito do reforço parcial extinto.
Pera aí que eu vou traduzir pra você.
O Efeito do Reforço Parcial Extinto
Essa é a maior contribuição de cientistas comportamentais como Skinner e Weiner.
Eles fizeram milhares de experimentos para descobrir como ratinhos reagiam a recompensas. Foi assim:
Em um grupo de ratinhos, eles colocaram uma barrinha pro ratinho empurrar. A cada empurrada esses ratinhos ganhavam uma comidinha.
Em outro grupo de ratinhos, eles colocaram a mesma barrinha pro ratinho empurrar. Mas agora, a cada 5 ou 10 empurradas na barrinha, é que o ratinho ganhava a comidinha.
O achado foi muito interessante, cara. O que você acha que acontece quando o ratinho empurra a barra e a comidinha não aparece?
Skinner e Weiner descobriram que o primeiro grupo de ratinhos, que só precisavam apertar uma vez a barra, tentava mais cinco vezes. E desistiam.
Eles desistiam de apertar a barra. Eles viram que o sistema não funcionava mais. Eles perceberam que a comidinha deve ter acabado, então não tinha nada que eles pudessem fazer.
E o segundo grupo de ratinhos, que tinha que apertar a barra de 5 a 10 vezes para receber a comidinha?
Os estudos dizem que esses ratinhos chegavam a apertar a barra ATÉ 100 vezes antes de desistir. Eles eram incansáveis.
O que isso significa?
Nada.
Ah tá, valeu Caio.
Mas peraí, tudo que eu falo aqui é sobre desenvolvimento HUMANO e organizacional. Nunca falei de desenvolvimento de ratinhos.
Esse experimento foi tentado com humanos. Exatamente do mesmo jeito, só que com um botão.
E sabe o que aconteceu?
Por incrível que pareça, as pessoas desistem antes dos ratos, cara.
Eu vou repetir. As pessoa desistem antes dos ratos.
Agora sim, o que isso significa?
A diferença entre ratinhos e pessoas
Essa é a fundação da psicologia positiva, cara.
Presta atenção.
Qual é a grande diferença entre eu e um ratinho?
Bom, começa que um ratinho nunca seria palestrante, consultor, e teria um site.
Mas vá mais além. A pessoa pensa, e o ratinho não, certo?
Isso significa que as pessoas dão motivos racionais para as coisas, enquanto os ratinhos são criaturas de instintos, certo?
E se as pessoas pensam e os ratinhos não, porque mesmo assim as pessoas desistem depois dos ratinhos?
Justificativas, desculpas, e motivos
Como humanos, a gente tem uma forte curiosidade para descobrir a causa do que acontece ao nosso redor e conosco.
Mas existem maneiras diferentes de explicar tudo o que fazemos e tudo que acontece com a gente.
As causas para as coisas podem ser permanentes ou temporárias.
Por exemplo, o humano no experimento do ratinho poderia pensar que “o cara desistiu de me dar comida”, e desistir já no começo.
Mas ele também pode pensar “o cara pode não ter percebido que eu tô aqui pedindo comida, então vou tentar chamar atenção dele”, o que dá mais motivação pra seguir em frente.
Então, a gente pode chegar em uma conclusão que vai mudar o jeito que você vê as suas justificativas, desculpas, e motivos na vida.
A tua resiliência, o quanto você tenta e o quanto você empurra a barrinha do ratinho não está ligada à previsibilidade da recompensa que você recebe.
Na verdade, a tua resiliência tá muito mais relacionada às justificativas que você dá para quando as coisas não dão certo.
Você pode ter tentado abrir uma empresa. Ela faliu. Você tem duas maneiras de justificar:
- Eu não nasci pra ser empreendedor
- Eu fiz alguma coisa de errado.
Repare que a primeira justificativa é permanente. Você convenceu você mesmo que você não é aquilo, e não importa quantas vezes você empurre a barrinha do ratinho, você nunca vai dar certo.
Enquanto isso, a segunda justificativa é temporária. Você convenceu você mesmo de que você não estava preparado. Isso significa que você pode se preparar e tentar de novo.
Como você pode usar isso pra se desenvolver?
Tome cuidado e reflita. Perceba o seu estilo de justificativas, desculpas, e motivos.
Hoje, psicólogos estão tratando pacientes com depressão ensinando eles a mudar o estilo de justificativa deles.
E por estilo de justificativa, eu quero dizer o jeito que você explica para você mesmo as coisas que acontecem com você.
Muitas pessoas tem a tendência natural de pensar que tudo que acontece com elas é permanente. Parece que vai durar a vida inteira.
Mudando o jeito que você explica as coisas ruins – de um evento permanente para um evento temporário -, pode ser uma das curas para sua falta de motivação.
Esse jeito que você explica as coisas é um hábito, como fumar. É automático. Quem é fumante sabe que o hábito de fumar é muito forte, e tem gatilhos muito fortes também.
Da mesma maneira que fumar, as justificativas permanentes são muito danosas para você.
Você é livre pra pensar que alguma coisa ruim que aconteceu é culpa sua, vai durar pra sempre, e vai ser afetar o resto da tua vida.
Ou, você pode pensar que alguma coisa ruim que aconteceu é culpa de vários fatores juntos, é passageiro, e que não vai significar nada na sua vida.
Eu terei cumprido o meu objetivo aqui se:
- Você perceber que se você adotar o primeiro estilo de justificativa, você vai desistir das coisas e começar a ter sintomas depressivos.
- Você perceber que adotando o segundo estilo de justificativa você vai alcançar coisas muito maiores na tua vida, só porque você vai continuar seguindo em frente.
Mas é claro que eu tenho mais objetivos a serem cumpridos, e por isso, eu quero te fazer um convite.
Eu adoro você, cara.
Eu tenho um respeito muito grande por quem lê coisas sobre desenvolvimento humano e organizacional. São pessoas insatisfeitas, que querem melhorar, querem ir além, querem fazer algo de bom para todo mundo.
Tudo que eu falo aqui é baseado em ciência. Tudo que eu falo nas minhas palestras, faço nas minhas consultorias, é tudo ciência. Não tem palpite.
E eu dou uma amostra de tudo isso, e um pouco mais, para a galera que tá em uma lista especial que eu tenho. Minha conversa com eles é franca, direta, e um-a-um.
A gente sempre troca uns emails, porque eu sempre respondo tudo o que eles perguntam. É tipo um coaching online, baseado em ciência – não nos palpites e gurus como fazem vários outros.
Se você tá aqui procurando por desenvolvimento, você com certeza vai fazer parte desse grupo.
REFERÊNCIAS
Seligman, M. E. (2006). Learned optimism: How to change your mind and your life. Vintage.
Weiner, B. (1985). An attributional theory of achievement motivation and emotion. Psychological review, 92(4), 548
Abramson, L. Y., Seligman, M. E., & Teasdale, J. D. (1978). Learned helplessness in humans: Critique and reformulation. Journal of abnormal psychology, 87(1), 49
Teasdale, J. D., Segal, Z. V., Williams, J. M. G., Ridgeway, V. A., Soulsby, J. M., & Lau, M. A. (2000). Prevention of relapse/recurrence in major depression by mindfulness-based cognitive therapy. Journal of consulting and clinical psychology, 68(4), 615
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