Talento é uma merda!

“Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado. Ao servo inútil, porém, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes” Lucas 19:12-27

Talento é uma das palavras mais escrotas da língua portuguesa, cara.

Pense, a ideia de que as pessoas nascem divinamente abençoadas por uma genética descomunal, e ainda reforçam essa genética por meio de trabalho, é extremamente controversa.

Talento é uma noção perigosa. Até na bíblia o talento é injusto. Como que as pessoas acreditam na justiça, então, com uma noção dessas?

A resposta pra mim é simples. É uma maneira fácil de justificar, explicar, e dar desculpa.

Se você tentou ler um livro e não conseguiu, poxa, que pena. Talvez você não tenha nascido com isso. Então deixe os livros para aqueles que nasceram com isso.

Se você tentou fazer um esporte e não conseguiu, poxa, que pena. Talvez você não tenha nascido com isso. Então deixe os esportes para aqueles que nasceram com isso.

A verdade?

Todo mundo falha, tem dificuldade, e cai no caminho deles.

O primeiro livro, por exemplo, é doloroso. Principalmente leituras técnicas e difíceis. Para o meu mestrado, tive que ler Cornelius Castoriadis, um filósofo greco-francês que escreve mal para caralho. Por vezes, esse cara tinha frases de cinco linhas, sem pontuação nenhuma. Vou colocar aqui um trecho.

A theocratic society, a society ordered essentially to allow groups of lords to make war interminably on each other, or, finally, a society like that of modern capitalism which creates a continuous flow of new ‘needs’ and exhausts itself in satisfying them, can be neither described nor understood in their very functionality except in relation to intentions, orientations, chains of significations, which not merely escape functionality but to which functionality is in large part subservient.

OITO FUCKING LINHAS ATÉ UM PONTO FINAL, CARA.

Pois é. Foi foda de entender o que o cara quer dizer, né. Você lê uma vez, e se perde na segunda linha. Você lê de novo, e se perde. Mais uma vez, e se perde. Eu tive que ler umas 20 vezes pra começar a entender o que o cara tava falando, bicho.

Depois de ler vinte vezes, você começa a entender que ele tá falando que uma sociedade religiosa ou capitalista não pode ser caracterizada por seus aspectos funcionais.

Eu podia ter falado: “este filho de uma puta escreve mal pra cacete, me recuso a continuar a ler”. Mas isso seria negar a minha curiosidade, o meu tesão e a minha paixão pelo assunto.

Até quando as pessoas vão continuar negando a curiosidade, o tesão e a paixão, falando que não tem talento?

REFERÊNCIAS

Castoriadis, C. (1997). The imaginary institution of society. Mit Press.

Dweck, C. S. (2006). Mindset: The new psychology of success. Random House Incorporated

Duckworth, A., & Duckworth, A. (2016). Grit: The power of passion and perseverance. Findaway World LLC

Johnson, L. T. (1991). The gospel of Luke (No. 3). Liturgical Press

Photo by Kira auf der Heide on Unsplash


Gostou desse post?

Porra, então vc vai amar os insights exclusivos que eu mando por email!

 

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s