No post passado, vimos que a educação superior no Brasil está estratificada entre universidades de elite e faculdades vocacionais e profissionais.
Robert Merton (1968), um famoso sociólogo, deu um nome para o fenômeno onde – não tem um jeito melhor de explicar – o rico cada vez fica mais rico, e o pobre cada vez fica mais pobre.
O efeito Matthew, como ele chamou, inspirado no evangelho segundo Mateus, 25:29, que diz:
Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver, até o que tem ser-lhe-á tirado.
A tendência de que os melhores fiquem cada vez melhores e mais distantes dos piores na educação superior foi abordada por Trow (1984), a partir do simples raciocínio: quanto mais famosa uma universidade, mais acesso a recursos ela tem. Quanto mais recursos, mais famosa ela fica. Por outro lado, as faculdades pequenas lutam para ter acesso a recursos, e quanto maiores e melhores ficam as universidades de elite, menores elas ficam.
E aqui eu faço um parêntese.
(Isso acontece em boa parte das áreas da sua vida. Tive uma vez uma aluna que me falou que não gostava de ler. Eu perguntei pra ela quando ela tinha lido seu último livro, e ela disse não lembrar. Ela tinha seus 30 anos. A tendência era que ela não lesse mais nenhum livro na vida dela, porque ela não conseguia ultrapassar a barreira inicial de que ler é difícil. Entretanto, quanto mais você lê, mais fácil e rápido fica sua leitura. Pra ela, um livro era muito difícil de ler. Pra outros, um livro dura menos de uma semana. O Efeito Matthew age em todas as áreas da vida.)
Voltando à educação. Como as faculdades menores, mais novas, menos tradicionais, e com piores reputações podem fazer para chegar ao topo? Bom, elas fazem o que resta. Enquanto as universidades de elite oferecem programas transformadores e realmente diferenciados, as pequenas faculdades oferecem programas vocacionais e profissionais. É uma transação. É uma loja de cursos. Professores são os produtos, existe um departamento comercial, etc, etc.
O problema do Brasil é que esta lógica de mercado está se alastrando para as universidades de elite, tirando a federal, que não precisa da grana. Em breve, todas as universidades poderão enfatizar o treinamento profissional ao invés da formação para a vida, da transformação pessoal, pura e simplesmente por causa da grana. E aqui eu incluo as sem fins lucrativos, filantrópicas, e confessionais.
E aí eu quero só ver o que vamos fazer num país sem sociologia e filosofia, sem química e física, por causa do nosso fetiche por tecnologia e profissões.
Você pode achar besteira. Mas no post que vem, falarei porque é a universidade que precisa abraçar esse tipo de conhecimento que não serve pra nada.
REFERENCIAS
Merton, R. K. (1968). The Matthew effect in science: The reward and communication systems of science are considered. Science, 159(3810), 56-63
Trow, M. A. (1984). The analysis of status. Perspectives in higher education: Eight disciplinary and comparative views, 132-64
Davies, S., & Zarifa, D. (2012). The stratification of universities: Structural inequality in Canada and the United States. Research in Social Stratification and Mobility, 30(2), 143-158
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