A universidade deixou de ser a torre de marfim reclusa da sociedade. Ela deixou sua bolha de vidro e precisou correr para o mercado em busca de notas mais altas no IGC, no Times Higher Education, RUF, e demais rankings por aí.
As instituições de ensino estão cada vez mais empreendedoras, escapando do seu status de “instituição” e cedendo às lógicas institucionais do mercado. Elas estão se diferenciando, se especializando, aderindo às melhores práticas, e respondendo rapidamente ao ambiente.
Esse movimento para o mercado está motivando uma batalha competitiva entre instituições de ensino. Mas não é aquela competição por status, por melhor em medicina ou melhor em direito, a melhor em filosofia e a melhor em física. Não.
Os tempos mudaram, e agora a competição é por alunos. As instituições de ensino estão cada vez mais vocacionais, com cada vez mais cursos técnicos, livres, de curta duração, faça hoje e aplique amanhã, sem teoria, só prática, etc.
Essa competição é, na verdade, para ver quem fica com os estudantes não tradicionais (Clark, 2000; Ruch, 2001). O estudante não tradicional é aquele que não entraria no ensino superior há 20 anos atrás. O estudante não tradicional é o pobre, é aquele que precisa trabalhar enquanto estuda, é aquele que não tem condições de bancar a mensalidade sozinho, que pede ajuda da mãe, do pai, do banco, e da igreja pra pagar 500ão numa mensalidade.
O problema, como eu falei no post passado, é um paradoxo que enfrentamos hoje, no mundo inteiro. De um lado, temos o ensino superior elitizado, com mensalidades de 1000 a 7000 reais, oferecendo ensino superior de verdade, uma formação com pesquisa, ensino, e extensão, com trabalho de tutoria individual, enfim, com a experiência que só uma universidade pode dar para o aluno.
De outro lado, temos o ensino superior popular, com mensalidades baixas, oferecendo treinamento vocacional e profissional, sem pesquisa acadêmica, sem extensão universitária, sem trabalho de tutoria individual, exatamente como qualquer outra “loja de cursos” que qualquer um pode abrir – inclusive eu.
O problema não é o acesso à educação. O problema é o acesso a qual educação?
REFERÊNCIAS
Davies, S., & Zarifa, D. (2012). The stratification of universities: Structural inequality in Canada and the United States. Research in Social Stratification and Mobility, 30(2), 143-158.
Clark, B. (2000). The entrepreneurial university: New foundations for collegiality, autonomy, and achievement. Retrieved July 2010 at http://www.oecd.org/dataoecd/1/47/37446098.pdf
Ruch, R. S. (2001). Higher Ed. Inc.: The rise of the for-profit university. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
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