É senso comum que, para premiar a produtividade existem dois caminhos que devem ser cumpridos por gestores de pessoas. Primeiro, premiamos financeiramente. Desde que os Fenícios inventaram o papel moeda, o prêmio financeiro é sinônimo de missão cumprida, e virou contrato de produtividade. Segundo, premiamos o funcionário verbalmente, massageando seu ego, puxando seu saco, colocando-o num pedestal.
As pessoas tem uma dificuldade imensa de sair do paradigma Skinneriano de reforço positivo. Quando o cachorro late ao tocar a campainha, premiamos. Quando um vendedor bate sua meta, premiamos. Quando você teve um bom dia, você mesmo se dá um presente, afinal, você merece.
O problema é quando você premia pelo “talento”, pelo “dom”. Senna não nasceu de capacete, Guga não nasceu com uma raquete na mão, e Jobs não nasceu com um MacBook air.
Existe uma grande diferença em dizer “você é muito bom nisso” e “você deve ter se esforçado muito para isso”. E é disso que eu vou falar a seguir.
Dizer “você é muito bom nisso” implica em um traço, uma característica fixa. Você é bom, e ponto final. Você nasceu bom, você tem uma tendência natural para isso, você é e sempre será. É um prêmio, um elogio por ser, por existir, por não fazer nada. É o mesmo que parabenizar o cachorro por latir, o gato por miar, o pé de mamona por ser verde. É absurdo e irracional.
Dizer “você se esforçou muito pra isso”, pelo contrário, parabeniza o progresso, enfatiza o esforço e a possibilidade de desenvolvimento. Afinal, ninguém nasceu sabendo física quântica, sociologia das profissões, ou direito penal. As pessoas se esforçam para aprender o que brilha seus olhos, passam noites em claro lendo sobre o que lhes dá tesão, e acordam cedo para trabalhar mais de perto com o que querem. Não somos cães, gatos, ou pés de mamona. Somos seres conscientes de que para “sermos bons” temos que tomar certas atitudes que a curto prazo, são desprazerosas, árduas, e tediosas.
Isso é tão, tão óbvio, tão claro na literatura e no conhecimento popular. Mas me preocupa o número de pais, professores, familiares, amigos, e conhecidos que acham que algumas pessoas “são” melhores que as outras em determinados campos cognitivos. Isso é uma besteira tão grande, cara.
Ao invés, reconheça os dias e noites que as pessoas que “são” boas em alguma coisa ficaram debruçados sobre livros, tutoriais, vídeos, aulas, slides, textos, etc. para “serem” boas nisso.
E se você quiser “ser” bom em alguma coisa, siga esses passos: “Ser” bom em alguma coisa se resume a HBC, conforme um professor me ensinou uma vez. O que diferencia o aluno nota 10 do aluno médio é o Indice HBC – Horas de Bunda na Cadeira.
Senta a bunda e estuda, mano.
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