Apesar da tendência de sistemas de alta participação na educação superior, não podemos esquecer daqueles que, por algum motivo, foram excluídos do sistema.
Não, eles não são coitadinhos nem vítimas da sociedade, ou do capitalismo. São pessoas que trabalham duro para conseguir ter o que comer e ascender na vida. Acho feio ter pena das pessoas.
Pense em países da África subsaariana, por exemplo, e compare com a África do Sul. Pense em estados como o Maranhão e Alagoas, por exemplo, e compare com São Paulo e Rio de Janeiro. Qual a diferença entre estados e regiões tão pobres e as tão ricas?
Alguns falarão em termos de renda. Outros em termos de capacidades cognitivas. Outros em termos de logística. Outros em termos de política. Eu prefiro falar sobre urbanização. As organizações e instituições de educação superior se concentram em cidades. Veja os países desenvolvidos e onde estão suas universidades. Essa parte da equação é simples. Ao invés de falar que estamos “em desenvolvimento”, deveríamos falar que estamos “em modernização”, ou “em urbanização”.
E aí o EAD tem um papel bem relevante. Claro que nem todos tem internet. Procure aí no Google “acesso à internet no Brasil”. 40 fucking por cento da população, 80 fucking milhões de pessoas, ainda não tem internet em casa, cara.
Já falei em posts anteriores que é inevitável a marcha para sistemas de alta participação na educação superior, e quanto mais o PIB cresce, mais a educação superior cresce.
Mas voltando pro principal, não desmereço o poder das políticas públicas nesse assunto. Fies e Prouni, por exemplo, foram pontapés muito bons para a legitimação da educação superior universal. Além disso, esses pontapés são irreversíveis. Em todos os países onde o governo ajudou a educação superior a crescer, ela nunca mais foi a mesma, nunca mais recuou. A educação superior se tornou como saneamento básico e energia – tem que ter.
Isso é bom? Sim. Mais pessoas estão sendo educadas, treinadas, e estão estudando.
Isso é ruim? Sim. A educação superior passou a ser exclusivamente para o treinamento de pessoas, ao invés de uma experiência transformadora.
É impressionante a dificuldade da raça humana em achar um meio termo pras coisas, viu…
REFERÊNCIAS
Marginson, S. (2016). High participation systems of higher education. The Journal of Higher Education, 87(2), 243-271
Gumport, P. J. (2000). Academic restructuring: Organizational change and institutional imperatives. Higher education, 39(1), 67-91.
Baker, D. (2011). Forward and backward, horizontal and vertical: Transformation of occu- pational credentialing in the schooled society. Research in Social Stratification and Mobility, 29, 5–29.
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