Lembra das lógicas institucionais do post anterior? Então. Thornton, Ocasio e Lounsbury (2012) falam que existem 7 lógicas institucionais sobre a sociedade. Tenho certeza que você consegue perceber a influência delas no seu dia-a-dia.
1) A família, aquela que desde que você era pequenininho te acolheu. A família é marcada pela lealdade, pela dominação patriarcal, pela reputação, e pela honra.
2) A comunidade, aquela em que você está inserido com a sua família, seu trabalho, sua área de estudo, seu esporte preferido. Você tem uma fronteira em comum com a comunidade, e vocês querem objetivos comuns. Vocês são comprometidos com algum valor, alguma ideologia, e esse comprometimento é bem emocional.
3) A religião também, mesmo que você seja ateu, sua vida é marcada pela influência da religião. Vivemos no calendário cristão, os feriados brasileiros são majoritariamente cristãos, as igrejas não pagam impostos no Brasil, e assim por diante. Tudo isso por causa na CRENÇA em uma divindade suprema, que impõe a fé invadindo a economia e a sociedade.
4) O estado, por sua vez, principalmente no Brasil, regula bastante o que você pode fazer. Ele era pra ser um mecanismo de distribuição de renda, baseado na participação democrática. Eu sei que no Brasil não funciona muito assim, mas a gente vai falar disso nos posts posteriores.
5) O mercado, onde você compra tudo com o seu dinheiro, ganha e perde dinheiro com ações, onde o auto-interesse reina, onde tudo é resumido a transações. Mesmo se você for socialista, não pode negar o poder do mercado.
6) As profissões. Conselhos profissionais estabelecem reservas de mercado, profissionais exemplares servem de modelo para os outros, a reputação pessoal é a maior moeda, como se fosse um tipo de capitalismo profissional.
7) Finalmente, a corporação. Humanos vivem em organizações, ninguém vive sozinho. Vivendo em organizações, obedecem a regras de hierarquia e buscam melhorar a imagem da corporação no mercado. Seu papel é estritamente burocrático na estrutura da organização, e você com certeza trabalha com base naquilo que os diretores ou o conselho esperam que você faça.
Essas sete lógicas institucionais comandam a sociedade. Eu duvido que você consiga excluir qualquer uma delas da sua vida. Nossa realidade foi construída assim. Nós acordamos diariamente com a certeza de que as coisas continuarão assim.
Porra, imagina o efeito que isso não tem nas organizações, cara. Pense num hospital sem fins lucrativos. Ele atende famílias, serve à comunidade através de subsídios do estado, compra insumos do mercado, se abre a diversas profissões (enfermeiros, fisioterapeutas, médicos), e é gerido como uma corporação. Se ele for religioso, fodeu.
“Caio, não consigo enxergar a relevância disso ainda.”
Pensa, mano. Ao mesmo tempo que o hospital tem que satisfazer a vontade dos médicos, aumentando seus salários em, digamos, 10%, isso vai gerar um ódio dos enfermeiros, que também vão querer um aumento. O estado, por sua vez, não vai aumentar os repasses para o hospital, que perdeu dinheiro aumentando o salário de médicos e enfermeiros (os fisioterapeutas já tão bem putos e também querem um aumento). Com isso, as famílias e a comunidade ficam muito mais putos, porque não tem leito de UTI suficiente, não tem médico o suficiente, e não tem cadeira pra sentar. Daí os fornecedores aumentam o preço dos materiais de cirurgia, porque a greve dos caminhoneiros fodeu com o estoque deles. Por último, o diretor pede demissão porque estava sendo ameaçado, porque ele queria voltar atrás no aumento dos médicos. Mas há esperança. Um magnata quer fazer uma doação, porque acredita que seu Deus vai recompensar suas boas ações com a vida eterna. Mas puta merda, o estado não deixa doar sem deduzir do imposto de renda.
Um fucking aumento de 10% pode gerar uma série de eventos que nenhum tipo de balanced scorecard e planejamento estratégico conseguiria prever, cara. A gente tá muito mais exposto a lógicas institucionais do que qualquer um pode prever – até eu. Tudo o que você faz, na sua vida, será para responder a uma lógica institucional.
REFERÊNCIAS
Thornton, P. H., Ocasio, W., & Lounsbury, M. (2012). The institutional logics perspective: A new approach to culture, structure, and process. Oxford University Press on Demand.
Friedland, R., & Alford, R. R. (1991). Bringing society back in: Symbols, practices and institutional contradictions.
Reay, T., & Hinings, C. R. (2009). Managing the rivalry of competing institutional logics. Organization studies, 30(6), 629-652.
Thornton, P. H., & Ocasio, W. (2008). Institutional logics. The Sage handbook of organizational institutionalism, 840, 99-128
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