Lógicas institucionais são padrões históricos de regras, crenças, práticas e valores que a gente constrói em sociedade. Com eles, a gente vive, organiza o tempo e o espaço, a dá significado pra nossa vida.
Por exemplo, as regras de viver em família, a crença em Deus, a prática de trabalhar “em horário comercial” com 2h pra almoçar (daqui a pouco tem restaurante fechando pro almoço). É difícil se imaginar sem isso, né? Sinto isso na pele quando um aluno pergunta: “Professor, você trabalha ou só dá aula?”.
A mesma coisa acontece nas organizações. Rotinas, práticas, procedimentos, hierarquias, etc, etc, etc. Coisas estúpidas que você tem que fazer porque “as coisas sempre foram assim”.
Existe uma crença na literatura científica de que as lógicas institucionais moldam todas as organizações do mundo, principalmente hoje. Todas as empresas são muito parecidas, se você perceber. Elas tem um departamento financeiro, um de RH, e outro de marketing. As escolas de negócios tão aí pra perpetuar isso, e fizeram durante muito tempo.
Essa abordagem “macro” trata esses padrões como rígidos, difíceis de mudar. Claro, existem várias lógicas institucionais na a sociedade e nos os campos organizacionais, como o campo da educação superior, e o campo das empresas de auditoria. Elas geralmente fazem prescrições de como as coisas devem ser, e as organizações geralmente acatam essas prescrições.
A questão é que existem escolhas que podem ser feitas, e o pessoal da academia esqueceu disso. Instituições são formadas por organizações, que são formadas por pessoas. Os pesquisadores e teóricos esqueceram do movimento de baixo-pra-cima, e só ficou no movimento de cima-pra-baixo. Que cagada, né.
Dá pra entender. Há alguns anos (e ainda hoje para muitos), assumir a homossexualidade era complicado por causa da sociedade, era uma vergonha pra família, era satanismo, então a maioria era reprimido ou reprimida. Há alguns anos era difícil se divorciar, era uma vergonha pra sociedade, pra família, um desrespeito a Deus, então vários casamentos de merda continuaram. A mesma coisa acontece nas organizações. Até hoje as pessoas vão reprimir aquela empresa que não tem um planejamento estratégico, ou vão preferir a empresa que tem certificação da ISO, porque são as boas práticas do mercado, das corporações. “A gente tem ISO, mas tá na gaveta e quando vem o fiscal a gente fica 1 mês só botando as paradas em ordem”, porra, pra que ter então?
A gente tem que começar a entender como os indivíduos dentro das organizações recebem as lógicas institucionais (essas demandas e regras que a sociedade acredita serem certas), se localizam na sua rede de relacionamentos, e transformam essas lógicas em práticas. Afinal, tem cada cagada…
Se alguém souber a resposta dessa última pergunta, me conta que a gente escreve um artigo!
REFERENCIAS
Powell, W. W., & Colyvas, J. A. (2008). Microfoundations of institutional theory. The Sage handbook of organizational institutionalism, 276, 298.
Thornton, P. H., & Ocasio, W. (2008). Institutional logics. The Sage handbook of organizational institutionalism, 840, 99-128
Thornton, P. H., Ocasio, W., & Lounsbury, M. (2012). The institutional logics perspective: A new approach to culture, structure, and process. Oxford University Press on Demand.
Zilber, T. B. (2016). How institutional logics matter: A bottom-up exploration. In How Institutions Matter! (pp. 137-155). Emerald Group Publishing Limited.
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